quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Rabiscos

O lápis com a ponta quebrada,
Rabisca o que não querem ler,
A vida e tão feita de um nada,
Que dá medo as vezes de ser.

Quem disse isso não entendeu,
Que toda alma se reconstrói,
E mesmo a noite que escureceu,
No surgir do dia tudo constrói.

As dores riscam e rabiscam,

O papel a tudo aceita,
Mas entre luzes que piscam,
Pra se viver não há receita.

Nem tudo que arde cura,

Mas no passado foi dito,
Que a vida é alegria e tortura,
Tortos caminhos, mundo bendito.

O lápis com a ponta afiada,

Risca o medo e toda a dor,
Há quem se reconstrua do nada,
Há quem se refaça no amor.

Rabiscos não podem falar,

De tudo que o coração sente,
Viver é bem mais que sonhar,
Quem não sente dor só mente.

Mas riscos desenha a vida,

Com suas retas e curvas linhas,
O mundo é tudo que se duvida,
E certeza de tantas coisinhas.

29/11/2018




Medo Maldito

Toma corpo o que se detesta,
A mentira tem forma humana,
E a detestável é tão bela,
Que deixa qualquer mente insana.

Os espíritos dizem que é boa,

Que as vezes é necessária,
Sem a mentira nada se entoa
Nem o canto nem as vaias.

Toma corpo o que se teme,

O medo é apenas uma defesa,
A alma perante ele treme,
E se encanta com falsas belezas.

A vida segue seu curso,

Até que chegue o seu fim,
E a rosa roxa no percurso,
Demonstra que é sempre assim.

Acreditar pode até magoar,

Às vezes fere profundo,
As dúvidas em um amar,
Destroem a qualquer mundo.

E a Negra magia do poeta,

O faz desmaecer sem poder,
A vida se torna incerta,
Seria melhor não nascer?

Espírito o que queres aqui?

Vieste já sei me acalmar,
Para que quem amo, possa sorrir,
E juntos a alegria compartilhar.

29/11/2018






Queria

Quem dera ter o poder,
De não desejar tanto certas coisas,
De tudo que é certo fazer,
De não complicar tantas outras.

Queria ter o poder,
De não querer, ter poder,
Quem sabe assim poder,
Dar fim ao que faz doer.

Queria ter as mãos sujas,
Apenas do meu próprio sangue,
Não sentir culpa de falhas cujas,
As quais não me fazem inocente.

Queria ao mundo os abrir,
Ainda que uma vida levasse,
De longe eu iria sorrir,
Se ao menos, bem tudo ficasse.

Não posso mudar a tudo,
Exceto a mim pois, me alcanço,
Se o cada é parte de um mundo,
Me levanto depois que descanso.

Voa cada um voo de criança,
Para ser feliz como desejar,
Afinal sempre ao poeta resta,
A vontade de ao tudo inspirar.

Hei de respirar meus doces sufocos,
Talvez me afogar em algumas lagrimas,
Eternamente poetas são apenas loucos,
Tentando não se perder nas vidas e rimas.

29/11/2018




terça-feira, 20 de novembro de 2018

Memória Obscura

Menino Negro quem és tu?
O Coitado, o mendigo, o pobre?
O incapaz açoitado de norte a sul?
Tu gostas de estar sempre às margens?

És mais do que pele e raça,
Mesclado de vários povos,
Na veia o sangue da massa,
Mas na língua um pisar em ovos.

Falar do Negro é proibido,
Afinal não existe racismo,
E se teu coração está dolorido,
 Memórias de história são cisma.

Menina Negra quem tu és?
A Morena da cor do pecado?
Aquela que do senhor beija os pés?
A tentação do Caminho errado?

És mais do que Raça e Pele,
És a mulher que tanto Luta,
A coragem que tantos querem,
A persistência na Labuta.

Falar da Negra é proibido,
Morena soa um tom bem melhor,
Só Deus sabe o que tens vivido,
Em silêncio pra não incomodar o maior.

Consciência Negra parece obscura
Afinal tanta coisa há de ter escondida?
Memórias de tanta vida, tão dura,
Mas nem tudo querem que mostre na vida.

20/11/2018